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A literatura e nós

Há alguns anos, foi descoberto durante escavações no Iraque, o fragmento de uma placa de argila com um texto em escrita cuneiforme. A idade da placa foi calculada em mais de 3000 anos.


O texto dizia: "Ontem não te vi em Babilônia"


Não sabemos se era parte de um bilhete relacionado a um encontro comercial ou sentimental, jamais saberemos… o importante é perceber que alguém sentiu falta de alguém, que por algum motivo não foi visto em Babilônia. Só sabemos disso porque restou uma frase escrita.


A palavra escrita é capaz de mudar o mundo, se lograr, mudar as pessoas. Se nos perguntarmos, por exemplo, qual a importância da poesia na vida prática e objetiva dos países, e em consequência, das pessoas, no seu dia a dia, não seria errado responder: nenhuma, ou quase nenhuma.


No entanto, ao lermos Drummond, quando ele escreve:


"Eu preparo uma canção

Em que minha mãe se reconheça

Todas as mães se reconheçam

E que fale como dois olhos

Caminho por uma rua que passa

Em muitos países

Se não me vêem, eu vejo

E saúdo velhos amigos..."


Somos atingidos por uma mensagem que vai dar direto em nossos corações. Sob essa perspectiva, então, a poesia, e a literatura, são vitais para que possamos assumir integralmente nossa humanidade.


Anton Tchekhov, Miguel Torga, Guimarães Rosa e tantos outros foram médicos e escritores e conseguiram coadunar duas atividades que têm como objetivo maior o ser humano.


De Torga, grande poeta português,


"Livre não sou, que nem a própria vida

Mo consente.

Mas a minha aguerrida

Teimosia

É quebrar dia a dia

Um grilhão da corrente"


Clarice Lispector diz claramente porque escreve: "Eu escrevo como se fosse para salvar a vida de alguém, provavelmente a minha própria vida"


Vimos nos belíssimos exemplos acima, as verdades, os sentimentos, o compromisso, que a literatura pode trazer, a nós e à nossa vida. Que preço tem isso? Incalculável.


No livro "A morte é um dia que vale a pena viver", da médica e escritora Ana Claudia Quintana Arantes, lemos  na introdução:


"Se você expressar o que habita em você, isso irá salvá-lo.

Mas se você não expressar o que habita em você,

Isso irá lhe destruir."


Jesus, evangelho de Tomé.

A literatura permite que expressemos tudo o que há dentro de nós, permitindo que nos conheçamos como verdadeiramente somos, nas nossas misérias, nas nossas falhas, mas também na nossa possibilidade de redenção.


Viva a literatura! Viva a poesia!



Dr. José Fernando Guedes Corrêa - Membro titular da SBN. Professor titular de neurocirurgia. Chefe da divisão de neurocirurgia do Hospital Universitário Gaffrée e Guinle (HUGG) e Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO).

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