Palavra do Presidente
Estamos assumindo a gestão 2023-2024 da Sociedade Brasileira de Neurocirurgia (SBN) em um momento extremamente delicado no cenário da saúde do Brasil: um aumento desenfreado de escolas médicas despejando profissionais sem a devida qualificação que acabam repercutindo diretamente na saúde dos pacientes. Na neurocirurgia, enfrentamos movimentos orquestrados de fontes pagadoras oferecendo remunerações aviltantes, desprestígio com nossa dedicação de anos de estudo e preparo técnico, excesso de negativas e abusos contra nossa autonomia em escolher as melhores opções cientificamente comprovadas para o tratamento de nossos pacientes.
E o que acontece quando reclamamos desta situação? Retaliações, descredenciamentos unilaterais, assédio moral, dentre outros artifícios tóxicos que vêm sendo motivos para muitos colegas abandonarem a nobre missão da neurocirurgia ou ainda entrarem em burnout. A expectativa que criamos durante a residência médica de levar cura e alívio aos nossos pacientes através de nossa técnica é sufocada e rechaçada por preocupações burocráticas extra medicina. Perdemos mais tempo respondendo e-mails e papéis de perguntas desconexas do que debruçados nos livros.
Por isso e outros motivos, a palavra que melhor resume nossa missão na atual gestão é: DISRUPTURA
Continuar na inércia dos modelos atuais de relacionamento com as fontes pagadoras levará fatalmente aos mesmos resultados de sempre. É preciso acordar o neurocirurgião brasileiro do coma em que se encontra. Essa é a primeira disruptura a fazer: mudar o mindset de nossos colegas que estão acostumados com o status quo.
Se nós não estivermos dispostos a arriscar, então estejamos prontos ao mesmo de sempre.
É ruim colocarmos o dedo na ferida, mas desta vez não vai dar para adiar. O momento é esse, ou viramos o jogo como força coletiva que temos, ou ficamos à deriva à espera de um milagre. Todos conhecem esta bandeira da defesa profissional que venho carregando desde 2017 quando fui convocado para a diretoria de defesa profissional pelo então presidente Dr. Ronald Farias. E com muito prazer, convoquei-o para a atual gestão, assim como muitos nomes com notoriedade na neurocirurgia brasileira.
A entrega de uma neurocirurgia de excelência e sustentável passa obrigatoriamente por um saneamento amplo de nosso exercício profissional
Temos que lembrar ainda que 70% da neurocirurgia brasileira é executada no Sistema Único de Saúde (SUS), e que se encontra muito defasada. Este será um dos principais pilares de nossa gestão com logística, diretoria e time dedicado para melhorias de nossa prática no SUS.
Embarquei numa aeronave chamada SBN em que os comandantes que me antecederam deixaram muitas conquistas em curso, GPS ajustado, tanque cheio, tripulação treinada e dedicada para continuarmos a cartilha do voo. O último comandante, Dr. Eberval Gadelha Figueiredo, enfrentou uma das maiores turbulências da humanidade, e teve a competência de guinar SBN para o céu de brigadeiro.
Não tenho palavras para descrever o sentimento da enorme missão que estou recebendo de todos meus pares. Espero poder contribuir à altura na posição de representante dos neurocirurgiões brasileiros como presidente. Mas, se preciso for, vou para o front com vocês, como sempre fiz.
Com ajuda de todos e a benção de Deus, vamos conseguir.
Grande abraço a todos!